Exmos Administradores e amigos(as) colegas,
Sim, o tempo de tolerância acabou. E o que é que isso significa?
Pode significar tudo ou nada. Podemos fazer muito ou podemos fazer pouco.
Contudo a tolerância acabou.
Vidas destruídas, famílias arruinadas, vidas expostas na praça publica.
Muita gente não resistiu e decidiu sair da empresa.
Muita gente não resistiu e decidiu suspender contrato.
Muita gente não resiste, mas continua trabalhando, dando a cara, sacrificando-se por tudo e por todos.
Só que a nós pedem-nos compreensão e espírito de sacrifício.
Mas aquilo que nós pedimos e exigimos é respeito.
A prova de que esta equipa respeita a empresa, é a tolerância e o civismo com que têm aguentado tudo isto.
Mas
a prova de que quem nos lidera, são as pessoas mais cruéis, mais frias,
mais mal educadas que já se viu, é este contínuo trato que têm para
connosco.
Agora os comunicados não vêm assinados pela Administração.
Vêm assinados e enviados por uma bonequinha de porcelana que pouco sabe
da vida e do que é viver em desespero e dificuldade.
Agora os
comunicados, além de mentiras e imprecisões, já vêm assinados por uma
segunda linha, pois já nem querem perder tempo com os funcionários.
Somos lixo, não somos gente.
Somos animais encostados a um canto, esquecidos por completo.
Somos gente abandonada à nossa sorte. Gente que dá a cara e não tem quem dê uma única palavra.
A vergonha não somos nós, mas são as pessoas que lideram o barco.
É
triste, é imoral ver gente na mina de ouro de Angola e Moçambique e ter
centenas de colegas, de vidas, votadas ao esquecimento em Portugal.
E depois pedem-nos compreensão? E depois pedem-nos colaboração?
Já agora. Eu passo fome e vocês compreendem isso?
Já agora. O meu nome está manchado no Banco de Portugal, vocês compreendem isso?
Já agora. Tenho o frigorífico vazio. Será que vocês o podem encher?
Mais ainda. As minhas filhas comem pão e bebem leite ao qual acrescento água. Querem que elas compreendam?
Querem que eu compreenda quando estou a chorar enquanto escrevo estas palavras.
A minha vontade é de morrer, de desaparecer porque já não aguento esta vida, este terror, este desespero.
Então digam-me lá quem é que não respeita quem?
Tenham vergonha. Vocês perderam a vergonha toda.
Querem viabilizar a empresa? Como é que o planeiam fazer esquecendo as pessoas e fazendo delas lixo?
Como
resistir numa empresa passando fome, sem 75% do subsídio de Natal, sem
subsídio de férias, sem duodécimos, sem 30% do ordenado de Abril, sem
100% do ordenado de Maio e a caminho de dois meses sem receber na
íntegra.
Digam seus cobardes. Como podemos continuar a trabalhar e a sobreviver assim?
Podia chamar-vos todos os nomes, mas todos seriam poucos perante o mal que nos estão a fazer.
Tenho mais nível do que vocês pois tenho consciência do próximo e vocês ficam como cobardes no vosso covil.
E o pior mal que nos estão a fazer é com a vossa cobardia, com essas palmadinhas nas costas que nos insultam.
O pior mal que nos estão a fazer é com mentiras, mentiras, mentiras e mais mentiras.
Mas a tolerância e o silêncio acabaram.
As suspensões vão cair em massa. Lojas vão fechar, mas por culpa vossa.
Brevemente vai estar tudo nos telejornais, nas bancas em vários jornais.
Vai estar na internet exposto tudo aquilo que vocês são. Tudo aquilo que estão a fazer.
Toda a vossa incompetência. Toda a vossa frieza. Toda esta loucura.
Basta!
Queremos fazer tanto por esta empresa, mas são vocês que matam toda a equipa!
Matam-nos da pior maneira. Aos poucos! Fazem-no lenta e cobardemente.
Qual é o vosso plano?
Quantas mais suspensões melhor e assim vai tudo de vela? E depois de que vale se quem fica não chega para as encomendas?
Querem emagrecer? E vão fazê-lo como? Vai tudo à maluca sem seleccionar quem interessa e quem não interessa?
E
que raio de PER é que vai ter viabilidade se não houver gente nas lojas
a trabalhar? Se não houver gente motivada, respeitada e com dinheiro
nos bolsos para poder enfrentar tudo isto?
Não entendem?
Os nossos 10% para nada dão. Vão voar. Continuarei a passar fome.
Mas o vosso Santo António vai ser em grande. Vai ser um Santo António à maneira com festa, sardinhas e pimentos.
Aqui
não há Santo António. Há cheiro a sardinha que me faz ficar de água na
boca, mas vamos todos comer massa com salsichas do Continente.
As salsichas são de hoje. A massa está há três dias no frigorífico.
E como tenho vergonha de ter chegado a este ponto.
Vergonha da merda de gente que me levou a viver na merda!
Dez por cento? Mas eu lá vivo com 10% de ordenado?
Talvez deva estar com 10% de felicidade.
Basta. Agora chegou a hora de pagarem!
Agora é a nossa vez de reagir.
Temos o direito à revolta e à indignação.
Chegará a vossa vez pois acabou a tolerância.